Diego D. Dias

Bem-vindos ao meu blog! Aqui, compartilho minha paixão pela biologia de flora, restauração ambiental e meu trabalho como consultor ambiental. Descubra projetos, serviços, insights e histórias sobre conservação da natureza. Junte-se a mim nessa jornada pela biodiversidade e sustentabilidade!

O Verra é a principal força no mercado voluntário de carbono, operando o Verified Carbon Standard (VCS), que certifica projetos de mitigação climática. Com sua vasta biblioteca de metodologias e forte aceitação, dominar o ecossistema Verra é essencial para profissionais de carbono. O guia apresentado detalha o processo complexo para certificação sob o VCS.

Entendendo o Verra e seu Impacto no Mercado Voluntário de Carbono

Em nosso artigo anterior, analisamos os padrões que regem o mercado voluntário de carbono. Hoje, voltamos nossa atenção para a força dominante que molda o mercado voluntário em escala global: o Verra. Operando o Verified Carbon Standard (VCS), o Verra é, em volume, o maior programa de certificação de GEE do mundo, funcionando como a espinha dorsal para milhares de projetos de mitigação climática.
Para qualquer profissional, consultor ou desenvolvedor de projetos na área de carbono, dominar o ecossistema Verra não é uma opção, é uma necessidade. Sua abrangência, a vasta biblioteca de metodologias e sua aceitação pelo mercado o tornam o padrão de fato para uma gama diversificada de projetos. Este guia detalhado servirá como um manual para entender sua estrutura, processo e aplicação estratégica.

O DNA do Verra: Escala, Rigor e Abrangência

Fundado em 2007, o Verra (originalmente The VCS Association) nasceu da necessidade de trazer rigor, consistência e credibilidade ao incipiente mercado voluntário de carbono. Sua missão é impulsionar o financiamento para ações climáticas e de desenvolvimento sustentável. Os projetos validados em seu programa VCS já foram responsáveis pela redução ou remoção de bem mais de um bilhão de toneladas de CO₂e da atmosfera.
O Programa VCS é construído sobre seis princípios fundamentais que garantem a integridade de cada crédito emitido, as Verified Carbon Units (VCUs):

  • Real: As reduções de emissões devem ser comprovadamente resultado de ações concretas.
  • Mensurável: Todas as reduções devem ser quantificadas de forma precisa, utilizando metodologias aprovadas e baseadas na ciência.
  • Adicional: O projeto deve demonstrar que a redução de emissões não teria ocorrido na ausência da receita proveniente da venda dos créditos de carbono.
  • Permanente: No caso de projetos de sequestro (como os florestais), deve-se garantir que o carbono removido não retorne à atmosfera. O VCS aborda isso através de um sistema de “buffer” (reserva de créditos) para mitigar riscos de reversão.
  • Verificado Independentemente: Todos os projetos são auditados em múltiplas etapas por auditores de terceira parte credenciados (VVBs – Validation/Verification Bodies).
  • Conservador: As estimativas e cálculos de redução de emissões devem ser conservadores, evitando a superestimação dos resultados.

O Ecossistema de Padrões Verra

O Verra gerencia um conjunto de padrões que podem ser aplicados de forma independente ou conjunta, criando um ecossistema de certificação robusto:

  • Verified Carbon Standard (VCS): É o coração do sistema, o padrão fundamental para a certificação de qualquer projeto de redução ou remoção de GEE. Ele define as regras e metodologias para a contabilidade do carbono.
  • Climate, Community & Biodiversity (CCB) Standards: Frequentemente utilizado em conjunto com o VCS, o padrão CCB certifica os “co-benefícios” de projetos de uso da terra. Um projeto com selo CCB comprova que, além de mitigar a mudança climática, ele também gera benefícios para as comunidades locais e para a conservação da biodiversidade. Projetos com a dupla certificação (VCS+CCB) costumam ter maior valor de mercado.
  • Jurisdictional and Nested REDD+ (JNR): Uma estrutura inovadora para programas REDD+ em larga escala (nível de estados ou nações), permitindo que projetos individuais (aninhados ou “nested“) sejam integrados à contabilidade de carbono de toda uma jurisdição.

Tipologias de Projeto: Onde o Verra se Destaca?

A grande força do Verra é sua vasta biblioteca de metodologias, que cobre praticamente todos os setores. No entanto, ele é particularmente dominante em:

  • Soluções Baseadas na Natureza (NBS), especialmente REDD+: O VCS é o padrão líder para projetos de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal. Sua metodologia para Desmatamento Não Planejado Evitado (AUD), por exemplo, é a base para a maioria dos grandes projetos de conservação na Amazônia.
  • Projetos Industriais e de Energia em Larga Escala: A robustez e a aceitação de mercado do VCS o tornam a escolha preferida para projetos de energias renováveis (eólicas, solares), captura de metano em aterros sanitários e minas de carvão, e eficiência energética industrial.
  • Projetos de Inovação Tecnológica: O Verra possui metodologias para tecnologias emergentes, como o biochar e a captura e armazenamento de carbono (CCS).

O Manual do Projeto VCS: Um Passo a Passo Detalhado

Elaborar um projeto sob o padrão VCS é um processo técnico e estruturado. As etapas a seguir representam o ciclo de vida padrão de um projeto:

Fase 1: Concepção e Desenho do Projeto

  • Passo 1: Seleção da Metodologia: O primeiro passo é encontrar, na biblioteca do VCS, a metodologia que se aplica à sua tipologia de projeto. Caso não exista, é possível propor uma nova metodologia, embora seja um processo longo e complexo.
  • Passo 2: Elaboração do Documento de Projeto (PDD – Project Design Document): Utilizando o template do Verra, o desenvolvedor descreve detalhadamente o projeto, incluindo a linha de base, a comprovação da adicionalidade, os cálculos de redução/remoção de emissões e o plano de monitoramento. Se o projeto buscar a certificação CCB, um documento separado para este padrão também é elaborado.

Fase 2: Validação e Registro

  • Passo 3: Contratação de uma VVB e Validação: O desenvolvedor contrata um auditor independente (VVB) para realizar a validação do PDD. O auditor avalia se o projeto está em total conformidade com as regras do VCS e da metodologia escolhida.
  • Passo 4: Submissão e Registro no Verra Registry: Após um parecer positivo da VVB, o projeto é submetido ao Verra. Após uma revisão interna, o Verra lista o projeto como “registrado” em sua plataforma pública.

Fase 3: Monitoramento e Verificação

  • Passo 5: Implementação e Monitoramento: O projeto é implementado e os dados de desempenho (ex: energia gerada, biomassa acumulada, etc.) são coletados conforme o plano de monitoramento.
  • Passo 6: Verificação: Periodicamente, o desenvolvedor contrata uma VVB (pode ser a mesma da validação) para verificar os dados monitorados e confirmar a quantidade de reduções de emissões que ocorreram de fato durante o período.

Fase 4: Emissão dos Créditos

  • Passo 7: Emissão das VCUs: Com base no relatório de verificação positivo, o Verra emite o volume correspondente de VCUs na conta do desenvolvedor no registro. A partir deste momento, as VCUs são ativos transacionáveis que podem ser vendidos a compradores ou aposentados para compensar emissões.

Análise Crítica: Prós e Contras do Padrão Verra

Prós:

  • Alta Liquidez e Aceitação de Mercado: Sendo o padrão mais utilizado, seus créditos (VCUs) possuem a maior liquidez e são amplamente aceitos pela maioria dos compradores corporativos.
  • Abrangência de Metodologias: Sua vasta biblioteca oferece “receitas” prontas para quase todo tipo de projeto, acelerando o processo de desenvolvimento.
  • Escalabilidade: O framework é robusto e bem adaptado para projetos de grande escala, incluindo iniciativas industriais e jurisdicionais.

Contras:

  • Críticas sobre a Integridade de Certas Metodologias: Algumas metodologias, especialmente as mais antigas de REDD+, foram alvo de críticas na imprensa e em estudos acadêmicos por, em alguns casos, potencialmente superestimarem as reduções de emissões. O Verra tem trabalhado continuamente para atualizar e aprimorar essas metodologias em resposta a essas críticas.
  • Flexibilidade pode ser uma Faca de Dois Gumes: A mesma flexibilidade que permite uma ampla gama de projetos pode, se não for bem auditada, levar a projetos de menor qualidade em comparação com padrões mais prescritivos em co-benefícios como o Gold Standard.
  • O Foco é o Carbono: Embora o padrão CCB exista, o foco primário do VCS é a contabilidade rigorosa do carbono. Os co-benefícios não são uma exigência mandatória, como no Gold Standard.

Verra: A Escolha Estratégica para Escala e Acesso ao Mercado

A decisão de utilizar o Verra é, para muitos projetos, a escolha mais pragmática e estratégica para garantir acesso ao mais amplo mercado possível. Sua liderança, liquidez e a abrangência de suas metodologias o tornam a infraestrutura fundamental do mercado voluntário.
No entanto, navegar por essa infraestrutura, selecionar a metodologia correta, desenvolver um PDD robusto e passar pelo crivo dos auditores é um trabalho que exige profundo conhecimento técnico e experiência. A qualidade da consultoria contratada para apoiar esse processo é, muitas vezes, o fator determinante para o sucesso do projeto.
Se a sua empresa ou projeto busca se certificar pelo padrão líder de mercado para maximizar a liquidez e o alcance de seus créditos de carbono, convido-o a iniciar uma conversa.
Podemos avaliar a aderência do seu projeto ao ecossistema Verra, selecionar a abordagem metodológica mais adequada e estruturar um caminho claro para a certificação, transformando seu impacto ambiental em um ativo de valor global.
Entre em contato através do e-mail diegoddias@protonmail.com ou conecte-se comigo no LinkedIn.

2 respostas para “Entendendo o Verra e seu Impacto no Mercado Voluntário de Carbono”.

  1. Avatar de Entendendo o Gold Standard: Guia Completo para Projetos de Carbono – Diego D. Dias

    […] um panorama dos principais padrões que regem o mercado voluntário de carbono e falamos dos padrões VERRA. Mencionamos que, nesse universo, nem todos os créditos são criados iguais. Hoje, vamos […]

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  2. Avatar de Projetos de Carbono: Tipos e Metodologias Essenciais – Diego D. Dias

    […] temos posts aqui no blog explicando cada um desses padrões, basta você clicar aqui para o Verra ou aqui para o Gold Standard. Mas, de forma simplificada, o Verra é o padrão mais utilizado no […]

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